29 de maio de 2012

Texto e Contexto em torno da “Lira dos Vinte Anos”, de Álvares de Azevedo




              Considerado o maior representante da Segunda Geração do Romantismo brasileiro, Álvares de Azevedo faleceu antes mesmo de completar vinte e um anos, fato que ajudou a criar o Mito em torno de seu nome, pois ele cumpriu – talvez sem querer – o trágico e caro caminho do herói romântico. A morte precoce do jovem poeta que se autodenominava fruto de uma geração perdida somada aos seus textos ultrarromânticos foram o suficiente para se criar em torno de seu nome a imagem mítica de um verdadeiro byroniano, em que o pessimismo se cumpriu, e o escapismo dera lugar a morte real, o mal do século não estava presente somente em seus textos, mas na própria vida – morte – de Álvares de Azevedo.

            Na sua trajetória, “lenda, biografia e poesia estão de tal forma associadas” (NETO, 2000) que parece que só é possível entender parte sua obra investigando sua curta vida. Vitimado por uma tuberculose e por um tumor causado por uma queda de cavalo, Álvares de Azevedo deixou um legado de possibilidades em torno de sua morte. O que nos resta, é tentar entender sua obra, em que maior parte foi publicada postumamente.


             Em vida, publicou alguns poemas, artigos e discursos. Mas foi só depois de sua morte que surgiram as poesias e outros escritos, alguns dos quais publicados antes em separado. A obra completa como as conhecemos hoje, compreendem vários textos, sendo Lira dos vinte anos, Macário, “tentativa dramática” e A noite na taverna, contos fantásticos os mais conhecidos.

            Preparada para integrar As três liras, projeto de livro conjunto de Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, a Lira dos vinte anos é a única obra cuja edição foi preparada pelo próprio poeta, porém, ele veio a falecer antes da publicação. Vários poemas foram acrescentados depois da primeira edição (póstuma), à medida que iam sendo descobertos, o que talvez tenha alterado o projeto inicial do jovem poeta.

            O título da principal obra de Álvares de Azevedo já sugere uma característica partilhada com outros poetas de sua geração: a juventude e a imaturidade do autor. Ele mesmo afirma no prefácio: “São os primeiros cantos de um pobre poeta. Desculpai-os. As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de amor.”

         Dividido em três partes, o livro aborda desde a tendência mais típica do ultrarromantismo, como o sentimentalismo exacerbado e o pessimismo a uma visão mais crítica sobre o mundo e a posição do poeta, lembrando de certa forma as temáticas propostas por Baudelaire.

             A primeira e a terceira parte apresentam uma poesia mais idealizante, com excesso do subjetivismo e do emocionalismo tradicional da Segunda Geração romântica. O próprio autor diz em seu prefácio a segunda parte que os poemas de sua primeira (e terceira parte) são feitos aos olhos de Ariel, em que o poeta vê o mundo de uma forma visionária e platônica.

            Na segunda parte, ele diz que o poeta “acorda na terra”, deixando, portanto o mundo dos sonhos, encarando a realidade com um realismo irônico e um cinismo byroniano. O próprio Álvares de Azevedo faz criticas ao ultrarromantismo e ao escapismo dos poetas de sua geração. A ironia está presente até mesmo no prefácio, em que ele recomenda ao leitor que não leia seus versos. Assim, nessa segunda parte o poeta busca na ironia, nas coisas do cotidiano e na literatura algo que possa substituir a profunda dor de viver e a falta da realização do amor.

Referências
MAJOR NETO, J. E. . Apresentação e notas. In: Álvares de Azevedo. (Org.). Lira dos vinte anos e Poesia Diversa. São Paulo: Ateliê, 2000.