30 de maio de 2012

Teoria do Óbito: Notas de Reflexão





Portanto, só os ciclos eram eternos.”
Geração da Utopia / Pepetela



       Serão muitos que, ao tomar tino do cadáver teorizado, em caras retorcidas de enxovalho, darão de ombros sem nada fazerem ou deixar-se fazer. Não doí, leitor amigo, não fere teu gosto essa crua introdução das coisas e, chegada a seu fim, se for o defunto o que se espera, velamos a ruína na certeza do por vir, se não, “abutremos” no que se persiste até a certidão de outro melhor legista.
       Leyla Perrone-Moisés, em O Longo Adeus da Literatura, sentencia o mal feito contra à aceitação da maioria: “A literatura acabou”. Por falta de coveiro que lhe prepare a vala e empurre, o corpo à vista se mantem. O Leitor-especializado (crítico), tombando aos poucos para o mesmo fim, carrega consigo parte desse mal “com a reconhecida superioridade que os cães vivos”, diria Sartre, “têm sobre os leões mortos”. Tzvetan Todorov, na sua obra A Literatura em Perigo, anuncia o desaparecimento do leitor por esquecimento e falta de estimulo dentro do didatismo excessivo e deformatório que, subtraindo os agradáveis elementos do processo, levariam a literatura à agonia e, posteriormente, à sua morte. Constata-se, portanto, que a causa ronda entre o natural e o homicídio, se houve mesmo o óbito.
       Afinal, Literatura para que? - fala-se daquela “moderna” - Antoine Compagnon nos responderia que “ela sofre concorrência em todos os seus usos e não detém o monopólio sobre nada, mas a humildade lhe convém e seus poderes continuam imensos; ela pode, portanto, ser abraçada sem hesitações e seu lugar na Cidade está assegurado. O exercício jamais fechado da leitura continua o lugar por excelência do aprendizado de si e do outro, descoberta não de uma personalidade fixa, mas de uma identidade obstinadamente em devenir”. Sartre, por sua vez, concluiria que “o mundo pode muito bem passar sem a literatura".
    A enfermidade está, talvez, atada à nomenclatura “Pós-Moderno”. Nota-se no Barroco uma disformidade quanto ao Clássico e no Arcadismo, por conseguinte, uma retomada. No Romantismo há uma ruptura para com os padrões neo-clássicos e hoje, o que temos, não se atem a um posicionamento declarado com relação que antes havia. “Boa parte da literatura atual vive da referência àquela que a precedeu”, diz Perrone-Moisés tocando no ponto anunciado. Estando o rei doutrora falecido, prolongam-se os súditos no anuncio da nova majestade, por medo, conformismo ou coisa qualquer que os vitima. Prendem-se ao passado em proposta e libertam-se temendo declarar sua liberdade. É preciso, em primeiro lugar, admitir o fim e reconhecer o cadáver para então seguir em frente. Devemos descanso à literatura Pós(tuma)-moderna, a “literatura do adeus”, frente às inegáveis evidencias de, entre nós, há muito correr os sintomas da novidade e da libertação não declarada.
      Fato é, bem veja Leitor, que deve-se dar nome às coisas, não sendo elas o que antes foram, em simples logica flagelada é que se conclui, são, evidentemente, outras e merecem mais que a extensão do passado firmada na voz da maioria de seus críticos. 
     Sendo Cadáver, ambulante carcaça ou coisa outra que melhor apeteça, fica esta nota como meio de reflexão sobre o óbito e/ou promessa de futuros questionamentos.