Leitor, bem vindo à
primeira postagem da coluna Lanternário. Vamos, na medida do possível, mostrar
frestas de luz que tangem a Literatura e o Cinema. Não pense que essa será
sempre uma zona de conforto, talvez o texto de acomode para que deixe o vírus
da inquietação. Comecemos com um pequeno poema:
Sinta o perfume das quimeras!
Das flores e dos verdes campos.
Sinta-se...
Sinta o prfume da sociedade!
Das putas e do gozo hostil.
Sinta-se...
Sinta-se...
Pois és plebeu e rei.
Reinando a pobreza do ser.
Esqueçamos
por uns segundos o poema (se assim preferir) e saltemos para a obra proposta.
No final do século XX uma obra inquietante chegou ao público leitor: O Perfume, a história de um assassino. Apesar
de o título ser bem direto, não podemos afirmar que o livro não nos conta a
história de um mero assassino e seus crimes. Jean-Baptiste Grenouille é o
protagonista de nosso livro, um jovem criado em orfanatos, que nunca conheceu o
amor e procura a essência humana. Essa essência só conheceu através de um
cheiro surpreendente, exalado por uma jovem.
Grenouille,
um ser estranho aos olhos da sociedade, tem um olfato aguçado, o que gera
interesse de alguns, ainda que a figura fosse totalmente desinteressante. A
busca por essa essência se dará através de diversos crimes que comete, onde
pretende “extorquir” o aroma de determinadas mulheres. A história se passa na
França do século XVIII, nosso personagem nasce nesse contexto, em meio a uma
barraca de peixes... nasceria quase morto, se não fosse tão insurgente, desde
seu nascimento. Vencendo a morte, condena sua mãe e condena sua vida também.
A
obra de Patrick Süskind, um alemão, é um marco diferencial para a literatura de
massa, que não apenas questiona posições sociais, como busca identificar o de
mais interessante no ser humano: sua essência. Mas será que a essência humana
pode ser capturada e guardada? Süskind, sabendo ou não, escreveu um dos best-sellers de maior repercussão da
época, saindo do anonimato para a estante dos mais vendidos.
Esse
foi um dos fatores que levou a obra a chegar ao cinema, mais de 10 anos depois,
pois Süskind, segundo informes, não queria que sua obra se deglutisse
desmerecidamente, participando, portanto, da construção do filme em alguns
pontos. Proponho ao leitor, então, que retome a leitura do poema, logo após a
leitura do livro e do filme. Qual é a essência humana? E a essência da arte?