“Portanto, só os ciclos eram eternos.”
Geração da Utopia / Pepetela
Serão muitos que, ao tomar
tino do cadáver teorizado, em caras retorcidas de enxovalho, darão
de ombros sem nada fazerem ou deixar-se fazer. Não doí, leitor
amigo, não fere teu gosto essa crua introdução das coisas e,
chegada a seu fim, se for o defunto o que se espera, velamos a ruína
na certeza do por vir, se não, “abutremos” no que se persiste
até a certidão de outro melhor legista.
Leyla Perrone-Moisés, em O Longo Adeus da Literatura,
sentencia o mal feito contra à aceitação da maioria: “A
literatura acabou”. Por falta de coveiro que lhe prepare a vala e
empurre, o corpo à vista se mantem. O Leitor-especializado
(crítico), tombando aos poucos para o mesmo fim, carrega consigo
parte desse mal “com a reconhecida superioridade que os cães
vivos”, diria Sartre, “têm sobre os leões mortos”. Tzvetan
Todorov, na sua obra A Literatura em Perigo, anuncia
o desaparecimento do leitor por esquecimento e falta de estimulo
dentro do didatismo excessivo e deformatório que, subtraindo os
agradáveis elementos do processo, levariam a literatura à agonia e,
posteriormente, à sua morte. Constata-se, portanto, que a causa
ronda entre o natural e o homicídio, se houve mesmo o óbito.
Afinal, Literatura para
que? - fala-se daquela “moderna”
- Antoine Compagnon nos responderia que “ela sofre concorrência em
todos os seus usos e não detém o monopólio sobre nada, mas a
humildade lhe convém e seus poderes continuam imensos; ela pode,
portanto, ser abraçada sem hesitações e seu lugar na Cidade está
assegurado. O exercício jamais fechado da leitura continua o lugar
por excelência do aprendizado de si e do outro, descoberta não de
uma personalidade fixa, mas de uma identidade obstinadamente em
devenir”. Sartre, por sua vez, concluiria que “o mundo pode muito
bem passar sem a literatura".
A enfermidade está, talvez, atada
à nomenclatura “Pós-Moderno”. Nota-se no Barroco uma
disformidade quanto ao Clássico e no Arcadismo, por conseguinte, uma
retomada. No Romantismo há uma ruptura para com os padrões
neo-clássicos e hoje, o que temos, não se atem a um posicionamento
declarado com relação que antes havia. “Boa parte da literatura
atual vive da referência àquela que a precedeu”, diz
Perrone-Moisés tocando no ponto anunciado. Estando o rei doutrora
falecido, prolongam-se os súditos no anuncio da nova majestade, por
medo, conformismo ou coisa qualquer que os vitima. Prendem-se ao
passado em proposta e libertam-se temendo declarar sua liberdade. É
preciso, em primeiro lugar, admitir o fim e reconhecer o cadáver
para então seguir em frente. Devemos descanso à literatura
Pós(tuma)-moderna, a “literatura do adeus”, frente às inegáveis
evidencias de, entre nós, há muito correr os sintomas da novidade e
da libertação não declarada.
Fato é, bem veja Leitor, que
deve-se dar nome às coisas, não sendo elas o que antes foram, em
simples logica flagelada é que se conclui, são, evidentemente,
outras e merecem mais que a extensão do passado firmada na voz da
maioria de seus críticos.
Sendo Cadáver, ambulante carcaça
ou coisa outra que melhor apeteça, fica esta nota como meio de
reflexão sobre o óbito e/ou promessa de futuros questionamentos.